quarta-feira, 30 de junho de 2010

Testamento - Manuel Bandeira

"O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros - perdi-os...
Tive amores - esqueci-os...
Mas no maior desespero
Rezei - ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra.
Por outras terras ande
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado
Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!.. Não foi de jeito ...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei."

Manuel Bandeira

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